Defenestração de Praga

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A partir de 1618, várias nações Europeias participaram de uma série de guerras e conflitos que ficou conhecida como Guerra dos Trinta Anos, evento inserido no contexto marcado pelo absolutismo e pelas reformas religiosas na Europa.

O estopim dos conflitos foi o episódio conhecido como Defenestração de Praga, ocorrido em maio de 1618. Para sua melhor compreensão, é necessário retomar alguns pontos da história do Sacro Império Romano-Germânico.

No século X, durante o reinado de Oto I (912-973), o território do Reino Germânico se expandiu por meio de conquistas militares. Em 962, o papa João XII coroou Oto I imperador de um império que, séculos depois, passaria a ser chamado de Sacro Império Romano-Germânico. Ao longo de sua existência, o Sacro Império foi governado por diferentes dinastias e vivenciou disputas de políticas, sociais, econômicas e religiosas.

Na Boêmia, por exemplo, ideias contra a Igreja Católica ganharam força a partir do século XIV, com as pregações e denúncias de John Huss, padre e reitor da Universidade de Praga – capital do Reino da Boêmia, um Estado imperial do Sacro Império. Dentre as práticas da Igreja criticadas por Huss, estavam a venda de indulgências e a riqueza do clero.

Acusado de heresia, Huss foi morto na fogueira em 1415. Seus seguidores, os hussitas, também foram perseguidos, mas reagiram, levando às Guerras Hussitas, em 1419. Os conflitos terminaram na década de 1430 com a derrota dos hussitas radicais (taboritas) após os hussitas moderados (utraquistas) unirem-se aos católicos. Na segunda metade do século XV, a Igreja desfez o acordo com os utraquistas e tornou o catolicismo a religião oficial da Boêmia.

A partir do início do século XVI, o ex-monge agostiniano Martinho Lutero passou a contestar o clero católico, marcando o começo das reformas religiosas na Europa. Rapidamente, as ideias de Lutero ganharam apoio de vários grupos em todo o Sacro Império, como a nobreza, que viu nesse movimento a oportunidade de contestar o poder da Igreja

Carlos V, da dinastia Habsburgo, comandou o Sacro Império de 1519 a 1556, período no qual as disputas entre católicos e protestantes se intensificaram. É desse período, também, a assinatura da Paz de Augsburgo (1555), que estabeleceu a liberdade religiosa no Império. Com o acordo, os príncipes-eleitores do império poderiam decidir a religião oficial das regiões sob seu domínio.

Como já mencionado, diferentes dinastias dominaram o Sacro Império ao longo de sua história, como a dinastia Habsburgo, que esteve no poder do século XV ao final do Império, no século XIX.

Ainda no início da década de 1610, quando Matias, um dos membros da Casa Habsburgo que dominaram o Sacro Império, ainda estava no poder, Fernando II foi escolhido como seu sucessor.

Católico educado por jesuítas, Fernando assumiu o trono da Boêmia em 1617. Entusiasta da Contrarreforma – movimento da Igreja Católica em resposta às reformas religiosas –, promoveu intensa perseguição aos protestantes, ordenando, inclusive, a demolição de templos luteranos.

Ilustração de Johann Philipp Abelinus da segunda Defenestração de Praga em 1618.

Como reação, em 23 de maior de 1618, um grupo de protestantes foi até o Castelo de Praga e atirou pela janela (defenestrou) três membros do governo de Fernando II. Embora a ação não tenha provocado a morte desses funcionários reais, ela acentuou as tensões entre católicos e protestantes na Europa, as quais deram origem, ainda em 1618, à Guerra dos Trinta Anos. Em um cenário já conturbado, a Defenestração de Praga constitui-se no estopim de uma das guerras mais devastadoras do continente europeu.

Referências:

Espínola, Hugo. Tolerância: conceitos, trajetórias e relações com os direitos humanos. Curitiba: Appris, 2018.

LOYN, H. R. (org.) Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.

SCHÜLER, Arnaldo. Dicionário Enciclopédico de Teologia. Canos: Editora da Ulbra, 2002.

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