A teoria moderna da evolução (também conhecida por síntese moderna, teoria sintética da evolução ou neodarwinismo), refere-se à expansão da teoria da evolução, que teve início com a fusão das ideias sobre hereditariedade à teoria da seleção natural.
Quando Darwin propôs a seleção natural como mecanismo condutor do processo evolutivo, ele reconheceu que um dos seus pré-requisitos era a variação nas características herdáveis dos organismos. No entanto, Darwin não pode explicar precisamente como os organismos poderiam passar tais características à prole, pois sequer tinha conhecimento sobre genes.
Alguns anos após a publicação do seu livro A Origem das espécies (em 1859), o monge austríaco Gregor Mendel, com base em seus experimentos com ervilhas, identificou os mecanismos pelos quais se dá a transferência das unidades herdáveis (que hoje chamamos de genes) à prole e propôs duas leis de hereditariedade (lei da segregação e lei da segregação independente). Seus resultados foram originalmente apresentados à comunidade científica em 1865.
Hoje Mendel é considerado o “pai da genética”, mas suas descobertas passaram despercebidas durante toda a sua vida e assim permaneceram até 1900, quando foram “redescobertas”. Inicialmente pensava-se que elas contrariavam as ideias de Darwin, mas, nos anos que se seguiram, foi demonstrado que as lacunas que existiam na teoria da seleção natural eram preenchidas por elas. Apesar disso, ainda pairavam críticas sobre os trabalhos de Mendel, em especial argumentações de que as características dos organismos variavam de maneira quase contínua, e não discretas.
Essa crítica caiu quando Ronald Fisher publicou um trabalho com um modelo que explicava as variações contínuas como resultado da interação de múltiplos genes de caracteres discretos, no que é considerado um dos trabalhos fundadores da síntese moderna. Além de Fisher, John Haldane e Sewall Wright publicaram, independentemente, por volta da década de 1930, grandes obras sobre genética de populações que demonstravam que a seleção natural poderia operar com os mecanismos de herança mendeliana. A partir da síntese moderna, o processo evolutivo passou a ser descrito matematicamente como a variação da frequência de genes nas populações ao longo do tempo.
Essa nova visão inspirou diversas pesquisas biológicas e levou ao desenvolvimento de várias áreas. O processo de especiação é um exemplo: antes da síntese moderna ele era frequentemente explicado em termos de macromutações ou por herança de caracteres adquiridos, mas depois dela passou a ser descrito com base na genética de populações. A classificação biológica também foi afetada. O conceito tipológico de espécie (que definia espécies como um conjunto de organismos similares) tornou-se inapropriado sob a ótica do neodarwinismo. Os membros de uma espécie passaram então a ser definidos pela capacidade de se intercruzarem. No campo da paleontologia, até então se acreditava que as mudanças observadas no registro fóssil eram explicadas pela evolução ortogenética (hipótese de que existe uma tendência intrínseca de uma espécie em evoluir numa determinada direção, para um objetivo pré-definido). Com a descoberta dos mecanismos genéticos da evolução, esta hipótese foi refutada.
Por volta da década de 1940 o neodarwinismo – que podemos considerar o núcleo da teoria evolutiva – já havia se espalhado por todas as áreas da biologia e se tornado amplamente aceito. Nas décadas seguintes a biologia evolutiva continuou se desenvolvendo e foi incorporando diversos outros princípios compatíveis com a síntese moderna, como a “teoria neutra” que enfatiza a importância de processos aleatórios na evolução. Entretanto, a maior parte dos pressupostos da síntese moderna original predomina até os dias atuais e existe uma corrente que defende que a biologia evolutiva carece de uma nova síntese, pois negligencia processos importantes.
Referências:
Laland et al. Does evolutionary theory need a rethink? Nature. 2014.
Ridley, Mark. Evolução. 3ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2006.
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