O termo genocídio curdo costuma se referir especificamente aos acontecimentos ocorridos ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando dezenas de milhares de pessoas pertencentes à etnia curda foram massacradas principalmente por meio de ações do governo iraquiano, liderado pelo ditador Saddam Hussein.
Somando aproximadamente 40 milhões de pessoas na atualidade, os curdos são membros de uma etnia originária das montanhas localizadas ao sul da Síria e ao norte do Iraque, uma região que ao total ocupa cerca de 500.000 km2. Conhecida como Curdistão, a área oficialmente é dividida entre seis países: Armênia, Azerbaijão, Irã, Iraque, Síria e Turquia. Como resultado, os curdos vivem separados, embora lutem por uma nação própria há milhares de anos.
Já no século XX, em meio ao processo de consolidação do Estado do Iraque os curdos tentariam criar seu próprio Estado, mas fracassaram. Quando o partido Baath assumiu o poder, a partir de 1968, os curdos puderam viver em um curto período de paz, interrompido já em 1971, quando se iniciou uma forte campanha anti curda. Conhecida oficialmente mais tarde com o nome de Anfal, a repressão tinha como principal objetivo impedir maiores aspirações por parte dos curdos de criar uma nação independente, ou mesmo ter cultura e linguagem próprias.
Primeiramente, os curdos que habitavam nos arredores das fronteiras do Iraque com o Irã e a Turquia foram expulsos do país. Em paralelo, qualquer curdo que fosse suspeito de participar de atividades oposicionistas era preso. Cada vez mais pressionado pela guerra contra o Irã a partir de 1986, porém, o governo iraquiano perdeu o controle de diversas áreas da região curda. Neste contexto, o ditador Saddam Hussein encarregaria seu primo Ali Hassan al-Majid, já ministro da Defesa e detentor de um cargo de destaque no Exército, em retomar a região.
Rapidamente, as regiões consideradas insurgentes seriam declaradas como “zonas proibidas”, sendo bombardeadas para depois serem invadidas. Em novembro de 1987, cerca de 600 curdos que haviam sido previamente aprisionados pelo governo iraquiano foram mortos com o uso de tálio, veneno normalmente utilizado para extermínio de ratos. Em 1988, o povoado de Halabja, ao norte, que previamente havia sido tomado pelos curdos com o apoio dos iranianos, sofreu um brutal bombardeio químico com uso de gás sarin e gás mostarda que deixou aproximadamente 10.000 mortos. Por ter ordenado este ataque específico, Ali Hassan al-Majid ganhou o apelido de “O Químico”. Detido em 2003, ele foi julgado por seus crimes em 2006 e executado em 2008.
Os ataques contra os curdos continuariam ainda depois da década de 1990. Sob a proteção dos EUA, os curdos puderam garantir uma área autônoma dentro do Iraque, ganhando uma guerra civil na qual milhares faleceram. Outros milhões atravessaram a fronteira para se exilar na Turquia, que, entretanto, não apoiou a independência turca, ou mesmo permitia que os curdos falassem sua língua natal. Após a Turquia ameaçar barrar o caminho das tropas americanas na região, seria resolvido que as províncias curdas se reuniriam em uma área autônoma em 2003.
Em 2017, os curdos que habitam o Iraque votaram para garantir sua independência no país, mesmo sob ameaça de retaliações de países vizinhos. Mesmo tendo atingido tal objetivo, porém, os curdos como uma etnia ainda lutam para poder constituir um Estado próprio. A questão, entretanto, é dificultada em grande medida devido ao fato que eles estão localizados em uma região rica em recursos naturais, incluindo petróleo, não tendo resolução prevista em futuro próximo.
Bibliografia:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/curdos-conflito-nao-tem-fim-434540.phtml
https://super.abril.com.br/historia/qual-a-diferenca-entre-arabe-curdo-turco-persa-sunita-e-xiita/
https://gloria-aleluia.org.br/curdos/
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