O parasitismo é definido como uma interação onde um organismo parasita obtém recursos através de um ou vários indivíduos hospedeiros, provocando danos e reduzindo sua aptidão. Essa interação pode ser necessária para algumas espécies de parasitas, chamados parasitas obrigatórios. Nesse caso, o parasita não é capaz de completar seu ciclo de vida fora de um hospedeiro adequado, necessitando dele para atingir a maturidade e se reproduzir. Já em outras espécies de parasitas, a interação é facultativa, de modo que os indivíduos não necessitam obrigatoriamente de um hospedeiro para sobreviverem e completarem seu ciclo de vida.
Os parasitas facultativos, portanto, podem apresentar dois hábitos de vida, sobrevivendo tanto dentro de um organismo hospedeiro (hábito de vida parasitária), como fora dele (hábito de vida livre). Em ambos os casos eles são capazes de se reproduzirem e obterem nutrientes. A opção por parasitar um organismo hospedeiro é moldada pelas condições do ambiente, como disponibilidade de nutrientes, e também pelas características do hospedeiro. Alguns estudos ainda apontam que o estado interno do indivíduo parasita contribui para a infecção, já que em ambientes altamente variáveis pode ser vantajoso para os parasitas apresentarem as duas formas de vida.
As larvas de moscas pertencentes a família Sarcophagidae são exemplos de parasitas facultativos. De tamanho médio (entre 6 e 16mm) e coloração cinza, o gênero Sarcophaga apresenta fêmeas larvíparas que depositam seus ovos sobre materiais em decomposição como carcaças e matéria orgânica, apresentando hábitos de vida livre. O hábito saprófago/necrófago observado nas larvas as torna importantes decompositores de matéria orgânica animal. Também lhes confere importância forense ao se desenvolverem sobre cadáveres humanos resultado de crimes por exemplo, auxiliando na estimativa do tempo decorrido após a morte. Em alguns casos as moscas podem depositar os ovos na epiderme, úlceras e feridas do corpo humano, causando miíase e apresentando o hábito de vida parasitário.
Outros exemplos de parasitas facultativos podem ser observados em diversas espécies de fungos, como o gênero Armillaria. Esses organismos podem viver na forma parasitária em árvores adultas, se alimentando de seus nutrientes, e também como organismos de vida livre ao se nutrirem das árvores em decomposição após sua morte. Assim, podem ser considerados importantes agentes na ciclagem de nutrientes do solo, contribuindo com a decomposição da matéria orgânica. O mesmo é observado em plantas do gênero Rhinanthus, que são capazes de crescer independentemente de um hospedeiro, mas podem apresentar a forma de vida parasitária em algumas situações.
O cleptoparasitismo pode ser considerado algumas vezes como parasitismo facultativo. Esse tipo de interação é definido como o roubo de alimentos previamente coletados ou processados por algum outro indivíduo hospedeiro. Um exemplo comum é observado na espécie de hiena-malhada (Crocuta crocuta), conhecida por assustar leopardos e leões de suas presas recém abatidas a fim de aproveitar os restos de alimento. Também é comum observar casos de cleptoparasitismo e consequentemente parasitismo facultativo na interação entre aves de rapina. Os carcarás (Caracara plancus) são perfeitamente capazes de obterem seu próprio alimento através da caça, mas em determinadas áreas de escassez de alimento é preferível apresentar hábitos parasitários e roubar a presa caçada por outras espécies de rapinantes.
Referências Bibliográficas:
[1] Facultative Parasite. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Facultative_parasite.
[2] Luong, L. T.; Brophy, T.; Stolz, E. & Chan, S. State-dependent parasitism by a facultative parasite of fruit flies. Cambridge University Press, vol. 144, n. 11, p. 1468-1475, 2017. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/parasitology/article/statedependent-parasitism-by-a-facultative-parasite-of-fruit-flies/BA830534ED9B373A0330C89D1622ABF1.
[3] Mello-Patiu, C. A; Silva, K. P. & Vairo, K. P. Checklist dos Sarcophagidae (Insecta,Diptera) do Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil. Iheringia, Série Zoologia, 107(supl.): e2017142, 2017.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/isz/v107s0/1678-4766-isz-107-e2017142.pdf.
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