No contexto da crise que abalou o Império Romano no terceiro século, diversas foram as mazelas que atingiram a população. Uma das mais conhecidas foi a Praga de Cipriano, uma doença que se alastrou facilmente pelo mundo antigo e pode ser interpretada como uma pandemia. Os relatos da época indicam que a praga tenha de disseminado a partir do Egito, região importante para a antiguidade, e conectada com diversas outras localidades, por onde transitavam homens e mulheres, mas também se promoviam inúmeras trocas comerciais e culturais. Chegou à Grécia e à Italia e assolou o Império Romano. A pandemia leva este nome pois foi São Cipriano, um bispo cartaginês, o responsável por deixar registros escritos dessa doença, caracterizando-a. Alguns de seus sintomas eram a fraqueza, o calor, os vômitos constantes e até mesmo as gangrenas. O relato de Cipriano conta que alguns enfermos atingidos pela peste chegavam a perder a audição ou a visão e que o número de mortes em decorrência desta praga era bastante alto. Em cidades muito populosas e expostas à praga os números foram alarmantes. Cipriano relata que, em Roma, a peste matava aproximadamente cinco mil pessoas por dia. Hoje acredita-se que a praga de Cipriano pode ter sido uma expressão de doenças até hoje bastante conhecidas, através de campanhas de conscientização para vacinação, como é o caso da varíola (erradicada mundialmente em 1977) ou o sarampo.
A peste não atingia apenas os agricultores e escravos, a população pobre. Ela chegava a todos os níveis e estratos da população, tendo sido responsável pela morte de Cláudio II, imperador romano entre os anos de 268 e 270. Como a peste abateu muita gente e gerou muitas mortes, e como o Império Romano já se encontrava em crise profunda, ela pode ser vista como mais um fator para o contexto pelo qual Roma passava. Perdeu-se muita mão de obra e as mortes eram muito constantes e volumosas. Atualmente os historiadores levantam a possibilidade de esse ter sido ou não um fator importante para o desenvolvimento de uma nova religião, como o cristianismo, que difundia a ideia da vinda de um messias para a Terra, que teria sido Jesus Cristo, e as ideias de salvação para a vida eterna. Entende-se, portanto, que a peste pode ter sido um dos elementos a levar os romanos à conversão para o cristianismo.
Nesta época compuseram o cenário de crise os altos cursos para manutenção de um Império territorialmente vasto e também a existência de uma peste que matava um alto número de romanos e escravos diariamente.
Com a alta quantidade de mortes até a arrecadação de impostos diminuiu, pois a morte era comum e constante. Até mesmo o exército não conseguiu se manter imune e muitos dos soldados foram abatidos com essa peste.
Referências:
GIBBON, Edward. Declínio e Queda do Império Romano. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
REZENDE, JM. À sombra do plátano: crônicas de história da medicina [online]. São Paulo: Editora Unifesp, 2009. As grandes epidemias da história. pp. 73-82. ISBN 978-85-61673-63-5. Available from SciELO Books .
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