Audição

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O ser humano utiliza o som, em conjunto com outros tipos de estímulos, proveniente do ambiente para perceber o mundo a sua volta, o que faz com que emoções e sentimos sejam despertos. A audição é, dentre todos os sentidos humanos, o primeiro a ter o desenvolvimento completo em termos de origem. O seu funcionamento tem início por volta das 16 semanas de gestação, quando já é possível o feto responder a estímulos provenientes do corpo materno e do ambiente externo. Esses estímulos são mecânicos, por meio de ondas sonoras as estruturas que compõem o sistema auditivo captam, transformam e transmitem ao córtex cerebral, onde serão interpretados e armazenados.

O sistema auditivo é dividido em três partes descritas abaixo. O processo da audição ocorre em duas etapas: o mecânico, que acontece na orelha externa e média, e o mecânico/elétrico, que decorre na orelha interna.

  • Orelha externa – constituída pelo pavilhão auricular e o canal auditivo.
  • Orelha média – membrana timpânica e cadeia de ossículos.
  • Orelha interna – cóclea, sistema vestibular e nervo auditivo.

Observação: atualmente não se usa mais a palavra "ouvido" para nomear a parte interna do sistema auditivo.

Anatomia da orelha (anteriormente chamado de Ouvido). Ilustração: SVETLANA VERBINSKAYA / Shutterstock.com

Fisiologia da audição

A vibração da onda sonora se propaga no meio e produz sons que são audíveis à orelha do ser humano. A frequência de som percebida pelo ser humano está entre 20 Hz e 20.000 Hz. Contudo, esses valores podem variar com o avanço da idade, onde pode existir a presbiacusia (perda auditiva). Na orelha externa, o som (energia sonora) é captado pelo pavilhão auricular, que funciona como um funil a fim de concentrar melhor a coleta dos sons. Os estímulos sonoros são direcionados para o meato acústico externo, onde são amplificados. Essa estrutura funciona também como auxílio na localização da fonte sonora (através da pressão que o som exerce na orelha). O som passa pelo canal auditivo externo e segue pela membrana timpânica, sendo transformada em energia mecânica e transmitida aos ossículos. A orelha externa funciona também como proteção ao sistema auditivo: há presença de pelos, glândulas sebáceas e ceruminosas que protegem contra a entrada de agentes patogênicos e estranhos; e controle da temperatura e umidade. Os estímulos atingem a membrana do tímpano, que vibra e se desloca em um movimento de para dentro e para fora da orelha média (conforme um pistão). As estruturas dos ossículos transmitem as vibrações pela base do estribo e bigorna até o cabo do martelo, onde são propagados pelo fluido que está presente na cóclea, estrutura da orelha interna.

Ocorre então a transformação do estímulo mecânico em energia hidrodinâmica. Os estímulos são conduzidos até o vestíbulo pela janela oval, onde existe a perilinfa, se desloca pela rampa vestibular e atinge a helicotrema, retornando pela rampa timpânica. Ao chegar na janela oval, os estímulos são direcionados à caixa timpânica. A diferença de pressão hidrostática é aplicada sobre a membrana basilar.

Sobre a membrana basilar há o órgão de Corti, uma estrutura que transforma a energia mecânica em energia elétrica. Nela, existem cinco tipos de células que realizam essa transdução: células ciliadas internas, células ciliadas externas (amplificam o impulso nervoso), células de sustentação (Deiters, Hensen, Claudius), estereocílios das células ciliadas e o nervo auditivo (coclear). Os estímulos são transformados em impulsos nervosos e conduzidos ao córtex cerebral onde serão decodificados pelo cérebro, que processa, interpreta e analisa.

Órgão de Corti (órgão espiral). Ilustração: Designua / Shutterstock.com [adaptado]

Dentre os cinco sentidos tradicionais e mais conhecidos do ser humano, o sistema auditivo e o sistema olfativo possuem uma percepção mais ampla do espaço tridimensional do ambiente, enquanto o sistema visual consegue captar os estímulos que somente estão na direção da estrutura (olho), ao passo que os sistemas do paladar e do tato são mais restritos, a percepção é mais específica ao local da superfície da estrutura. O sistema auditivo consegue perceber os estímulos sonoros, através da orelha externa, que estão em toda a sua volta, em qualquer direção da profundidade, altura e largura do ambiente. Portanto, além da captura de sons, a orelha consegue desenvolver a consciência do espaço, assim, a audição contribui para que o ser humano desenvolva o senso de localização e equilíbrio, uma vez que o indivíduo consegue localizar-se e orientar-se no espaço.

Mais que um sentido

Parte da orelha interna, o aparelho vestibular é composto pelos canais semicirculares e pelo vestíbulo, forma um sistema multissensorial. Não há uma consciência direta da percepção dos estímulos por essas estruturas, mas os sinais vestibulares contribuem com uma gama de funções cerebrais, variando de reflexos para os mais altos níveis de percepção até a percepção espacial e a coordenação motora. Foi somente no século XIX que o sistema vestibular passou a ser reconhecido como um órgão sensorial separado do sentido da audição. Ficou conhecido como o sexto sentido do corpo humano.

Três canais semicirculares, aproximadamente ortogonais, detectam movimentos rotacionais, e os dois órgãos otolíticos (o utrículo e o sáculo) percebem acelerações lineares. Os aferentes vestibulares são continuamente ativos mesmo em repouso e são notavelmente sensíveis para sinalizar acelerações de movimento à medida que nossa cabeça se traduz e gira no espaço. O movimento do fluido da endolinfa nos canais semicirculares durante o movimento da cabeça desloca os receptores da ampola, proporcionando um sinal proporcional à aceleração angular da cabeça que leva a movimentos compensatórios posturais e oculares.

Quando não há simetria na resposta labiríntica, por causa da estimulação excessiva ou pela hipoestimulação, pode ocorrer a vertigem.

Mesmo quando o indivíduo permanece imóvel, os órgãos otolíticos sentem a força da gravidade (uma forma de aceleração linear). Os sinais dos canais semicirculares e dos órgãos otolíticos são complementares; sua ativação combinada é necessária para explorar e compreender a enorme gama de movimentos físicos experimentados na vida cotidiana.

A interação visual/vestibular e propriocepção/vestibular ocorrem ao longo das vias vestibulares centrais e são vitais para o olhar e controle postural. Sinais dos músculos, articulações, pele e olhos são continuamente integrados ao fluxo vestibular. Devido à forte e extensa convergência multimodal com outros sinais sensoriais e motores, a estimulação vestibular não dá origem a uma sensação consciente separada e distinta.

Alguns distúrbios ou doenças do sistema auditivo afetam e podem comprometer a acuidade auditiva, diminuindo o poder da percepção dos sons até a total incapacidade do indivíduo de ouvir.

Referências:

ANGELAKI, D. E.; CULLEN, K. E. Vestibular system: the many facets of a multimodal sense. Annu. Rev. Neurosci., v. 31, p. 125-150, 2008.

BARNETT-COWAN, M. Vestibular perception is slow: a review. Multisensory research, v. 26, n. 4, p. 387-403, 2013.

Fisiologia da audição - Fundação Otorrinolaringologia. Disponível em: < http://forl.org.br/Content/pdf/seminarios/seminario_28.pdf >. Acesso em: 02/07/2018.

GENTIL, F. et al. Estudo do efeito do atrito no contacto entre os ossículos do ouvido médico. Revista internacional de métodos numéricos para cálculo y diseño en ingeniería, v. 23, n. 2, p. 177-187, 2007.

RUI, L. R.; STEFFANI, M. H. Um recurso didático para ensino de física, biologia e música. Encontro Estadual de Ensino de Física. Atas. Porto Alegre: Instituto de Física-UFRGS, 2006.

WULF, C. O ouvido. Ghrebh-: revista digital do Cisc–Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia. São Paulo, n. 9, 2007.

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