Período Clássico da Grécia Antiga

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A história grega na antiguidade pode ser dividida em diferentes períodos marcados por eventos que transformaram a vida na sociedade à época. Boa parte do que conhecemos da Grécia Antiga está localizada no período que chamamos de Clássico. Foi durante este período que ocorreram as Guerras Médicas, a Guerra do Peloponeso, a ascensão da Macedônia. Foi também neste período que floresceu a democracia ateniense, marcando a organização social e política do mundo ocidental. Foi também neste recorte que Atenas e Esparta estabeleceram-se de forma hegemônica, alternando-se como força de maior poder na Hélade. Por isso, conhecer mais detidamente o Período Clássico da Grécia Antiga é também reconhecer suas principais características e complexidades.

Partenon em Atenas, Grécia, um dos principais monumentos do Período Clássico. Foto: Gabriel Georgescu / Shutterstock.com

Democracia ateniense

O período clássico é aquele que ocorreu entre os séculos VI e IV a.C., ou seja, inicia-se com a emergência da democracia ateniense e tem seu marco final na conquista da Grécia pelo Império Macedônio de Felipe II. O processo que marca o início do período – a construção da democracia ateniense – foi impactante no mundo ocidental, e até hoje o conceito de democracia é constantemente reelaborado. Ele foi importante não só como definição de como lidar com o poder público, mas, especialmente, porque estabeleceu a participação política de mais cidadãos, que não só os eupátridas. Certamente as democracias modernas em muito se diferem da democracia ateniense. Enquanto a primeira está baseada em uma democracia representativa, ou seja, que escolhe por meio de eleições os representantes do povo que lidarão com a coisa pública, o modelo de democracia direta previa o debate e a participação de todos os cidadãos na tomada de decisões concernentes à vida pública. Isso fez com que pequenos proprietários de terra, antes excluídos do processo de decisões sobre a vida pública, pudessem passar a participar das escolhas. Mas, até a chegada ao modelo de democracia ateniense muitas foram as disputas ocorridas, especialmente entre o povo e a aristocracia.

Os conflitos foram ganhando corpo e uma ameaça de guerra civil entre o povo – formado por comerciantes, camponeses e artesãos, por exemplo – e os eupátridas, ou bem-nascidos. Daí a necessidade em construir um novo modelo de participação e tomada de decisões.

Guerras Médicas

Além do florescimento da democracia ateniense, os conflitos entre as poleis e delas com invasores externos também estiveram bastante presentes. Foi o caso das Guerras Médicas, que mostraram o quão suscetíveis os gregos estavam aos ataques exteriores, como os persas, que passaram a tentar invadir a região. As Guerras Médicas foram batalhas ocorridas entre os anos de 490 e 479 a.C. envolvendo os gregos e os persas, que disputavam o controle do comércio marítimos e dos territórios. Enquanto, por um lado, os gregos passavam por um processo de diáspora, buscando novas terras pois as suas já eram insuficientes para subsistência, os persas organizavam seu império, expandindo-se sobre o ocidente. Ainda que os persas tenham conseguido conquistar algumas cidades gregas, as Guerras Médicas tiveram vitória grega. A formação da Liga de Delos foi crucial, pois construiu uma rede de solidariedade e proteção entre as poleis. Por outro lado, ao fim da Guerra, Atenas – que dominava a Liga de Delos, concentrou poder e riqueza e investiu em sua cidade, que fora devastada pelo Império Persa, reconstruindo Atenas e tornando-a um centro de profusão cultural.

Guerra do Peloponeso: Atenas vs. Esparta

Entretanto, novos conflitos marcaram o Período Clássico. Após a vitória grega sobre os persas e o crescimento de Atenas em poder e riquezas, pequenas batalhas entre poleis continuavam a ocorrer. Foi o caso de uma das maiores guerras no mundo antigo. Descontentes com os mandos de Atenas, os espartanos criaram a sua própria linha de defesa e criaram a Liga do Peloponeso, em oposição direta à Liga de Delos. Este conflito, liderado de um lado por Atenas e de outro por Esparta, ficou mundialmente conhecido como Guerra do Peloponeso, um conflito ocorrido ao longo do Mediterrâneo no século V a.C. A Guerra finalizou com a vitória de Esparta, que passou a ser a principal força de poder político e social à época. Mas as disputas por poder no mundo grego antigo eram constantes e logo Esparta foi dominada por Tebas. As sucessivas disputas gregas deixaram a região sensível e insegura, o que ocasionou em novas tentativas de domínio.

Desenvolvimento das ciências e filosofia

Mas, ao passo que as guerras, as disputas entre polis e a defesa contra invasores ocorriam, ocorriam também diversas transformações e construções de novas sensibilidades e saberes. Por isso, considera-se que no período clássico houve um florescimento do pensamento racional e um desenvolvimento das expressões artísticas. As poleis gregas estavam intimamente relacionadas com a religiosidade e a crença nos mitos era parte central da vida social. Acreditar em vários deuses e atribuir-lhes funções para cada área da vida foi uma prática constante. Entretanto, no período clássico, áreas como a filosofia, a medicina, a história, a matemática e a astronomia passaram compor a sociedade grega. Isso não quer dizer que os gregos tenham deixado de acreditar em seus mitos, em seus heróis ou em seus deuses, mas que a busca por explicações racionais para a vida cotidiana passou a se fazer também presente.

São datados deste período, por exemplo, os escritos de Heródoto de Halicarnasso, considerado um dos primeiros historiadores do mundo ocidental. São deste mesmo período os principais filósofos gregos, que conhecemos até hoje. Sócrates, por exemplo, viveu entre 470 e 399 a.C. e sua filosofia era pautada na ideia de que o ser humano nada sabia, e que deveria estar na constante busca de explicações, partindo do pressuposto de sua ignorância. Platão, discípulo de Sócrates, viveu entre 427 e 347 a.C. e Aristóteles – com quem Alexandre Magno teve aulas – viveu entre 384 e 322 a.C.

Artes

As expressões artísticas também foram potencializados durante o Período Clássico. Foi nesta época, por exemplo, que o teatro grego se desenvolveu. O formato em semicírculo permitia que todos os espectadores tivessem acesso às encenações que ocorriam no palco que ficava ao centro. As primeiras apresentações não eram propriamente encenações. Eram homenagens aos deuses que ocorriam durante períodos de colheita, e que eram feitas a partir de cantos e danças. O teatro encenado a partir de textos próprios foi desenvolvido justamente no período Clássico, e, principalmente, a partir da cidade de Atenas. Entrou em cena a dramatização e a utilização de ferramentas e utensílios de auxílio, como as máscaras, que contavam histórias a partir de dois gêneros: a tragédia e a comédia.

No campo das esculturas, já presentes na cultura grega desde o seu início, as formas ganharam novos contornos e a representação do corpo humano passou a ser feita de forma a representar cada vez mais detalhadamente o corpo humano real, passando a impressão de movimento. Até hoje a arte grega é admirada e serviu de referência para a expressão artística em outros momentos históricos, como durante o renascimento.

Invasão macedônica e fim do período Clássico

Em 338 a.C., antes mesmo da morte de Alexandre, o Grande, e durante o governo de seu pai, Felipe II, tomar o poder e conquistar a Grécia. A ascensão da Macedônia marca o fim do recorte temporal entendido como Período Clássico. A partir de figura de Alexandre e da expansão do seu império sobre o mundo antigo tem-se o que chamamos de período helenístico, ou seja, um período marcado pela expansão da cultura grega mas também pela mistura das culturas gregas com os povos que a ela estavam submetidos.

O Período Clássico grego foi marcado, de um lado, pelos conflitos entre poleis, e entre as poleis e os invasores externos. O domínio e a proeminência de duas cidades foi significativo: Atenas e Esparta exerceram poderes e disputaram entre si. Se Esparta pautava-se nas oligarquias militaristas, Atenas construiu um novo sistema. Foi o período de consolidação da democracia ateniense, que foi responsável por manter em Atenas a estabilidade, ocasionando em um florescimento cultural significativo, além de uma retomada das relações comerciais e um consequente enriquecimento. Foi também o período do desenvolvimento do pensamento racional e dos questionamentos sobre o ser humano. Durante o Período Clássico uma das principais construções do mundo ocidental foi erguida: o Parteenon, o mais antigo templo grego, elaborado e erguido entre 447 e 438 a.C. Nele encontrava-se a estátua da deusa Atena, a deusa de Atenas, ao fundo.

O fim do Período Clássico foi marcado pela ascensão macedônica na região. A conquista da Grécia pelas tropas de Felipe II deu início ao que chamamos de Período Helenístico. Mesmo após a morte de Felipe em batalha, Alexandre, seu filho, tomou seu lugar e prosseguiu o projeto expansionista, avançando em direção ao oriente, onde submetia os povos locais à cultura grega. Assim, o Período Clássico teve duração de aproximadamente dois séculos, de disputas por poder e de desenvolvimento do pensamento racional, artístico e cultural. Os nomes de destaque do mundo grego e até hoje conhecidos são datados do período, tais como Heródoto, Hipócrates, Sócrates, Platão, Aristóteles, e campos como a História, a Medicina e a Filosofia, bem como o teatro e as artes plásticas ganham importância central na vida social grega à época.

Leia também:

Referências:

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002.

GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.

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