O efeito Baldwin é um mecanismo que relaciona a evolução ao processo de aprendizagem e que postula que características aprendidas podem afetar o curso da evolução de forma compatível com as ideias de Darwin sobre seleção natural. Este mecanismo foi proposto de forma independente no mesmo ano (1896) por Baldwin, Morgan e Osborn.
A princípio, admitir que características adquiridas por um organismo ao longo da vida podem influenciar na evolução das espécies parece compatível com as ideias desacreditadas de Lamarck (herança de caracteres adquiridos). Mas, se é consenso que não existe interação direta entre aprendizado e evolução, isto é, que não é possível passar para a prole o que aprendemos durante a vida, como então a aprendizagem poderia afetar a evolução?
Em 1896, o psicólogo americano James Mark Baldwin (1861-1934) propôs um mecanismo – hoje conhecido como efeito Baldwin – para explicar a evolução da aprendizagem que chamou de “um novo fator em evolução”. Este novo fator nada mais é do que o que conhecemos hoje por plasticidade fenotípica, que é a habilidade de um organismo se adaptar ao ambiente durante sua vida.
Segundo este mecanismo, a aprendizagem ao longo da vida poderia ser passada adiante de forma indireta. A ideia conceitual por trás do mecanismo proposto por Baldwin é a seguinte: se o aprendizado é importante para a sobrevivência do indivíduo, os organismos que possuem maior capacidade de aprender terão um número maior de descendentes. Dessa forma, os genes responsáveis pela habilidade do aprendizado terão sua frequência aumentada na população – isto é a evolução por seleção natural.
Baldwin usou como exemplo a seguinte situação: se em um dado momento da evolução, alguns indivíduos passaram a utilizar o polegar de forma oposta aos demais dedos (como fazemos atualmente) e isso tornou suas chances de sobreviver maiores que as daqueles que não aprenderam esta habilidade, a próxima geração seria plástica, inteligente ou imitativa o bastante para fazer o mesmo. A seleção natural então atuaria favorecendo indivíduos capazes de imitar a nova habilidade – e as gerações seguintes teriam uma ênfase nessa direção.
O efeito Baldwin atua em duas etapas. A primeira delas consiste na sinergia entre a aprendizagem e a evolução. Inicialmente a plasticidade fenotípica permite a adaptação de um indivíduo a uma mutação parcialmente bem sucedida que em outra situação poderia ser inútil a ele. Se essa mutação aumenta o fitness desse indivíduo, isto é, sua adaptabilidade ao ambiente, ela tende a se proliferar naquela população. Já a segunda etapa do efeito Baldwin consiste na assimilação genética dos mecanismos plásticos. Dado que a aprendizagem de um determinado comportamento (primeira etapa) é custosa para o indivíduo – requerendo grande quantidade de energia e tempo para ser obtida –, com o tempo a evolução pode “encontrar” um mecanismo rígido para expressar aquele comportamento aprendido a partir do genótipo, “substituindo” (ou “canalizando”) a plasticidade fenotípica: o que antes precisava ser aprendido, agora é instintivo.
Fontes:
Baldwin, J. A new factor in evolution. The American Naturalist. 1896.
Pereira Jr, A.; Bellini-Leite, S. Aspectos evolutivos e Informacionais da consciência. Informação e ação – estudos disciplinares. 2016.
Suzuki, R. e Arita, T. The Baldwin Effect Revisited: Three Steps Characterized by the Quantitative Evolution of Phenotypic Plasticity. ECAL. 2003.
Turney, P.; Whitley, D. e Anderson, R. Evolution, Learning, and Instinct: 100 Years of the Baldwin Effect. Evolutionary Computation. 1996.
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