O anacoluto constitui o conjunto de figuras de construção ou de sintaxe. Isto significa afirmar que se trata de uma figura de linguagem que transfigura a construção padrão das orações conforme a sintaxe prevista pela gramática.
Nesse sentido, o anacoluto é a figura que quebra a estruturação lógica da oração, mudando a construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível. Conforme é possível verificar nestes exemplos:
Eu parece-me que ainda não agradei a todos.
A pessoa do discurso quer exprimir uma ideia através do verbo “agradar”, e para isso inicia seu pensamento com o pronome “eu”, termo pelo qual irá expressar o sujeito da ação. Contudo, o sujeito anunciado torna-se o elemento que ficou sem função. Com a imprevista estrutura assumida pela frase, a primeira pessoa, por ele representada, passou a objeto direto. (me)
O anacoluto é um fenômeno muito comum, especialmente na linguagem falada, e pode ser assim explicado: depois de uma pausa, a pessoa que fala ou escreveu perde-se do começo do enunciado e continua a exprimir-se como se iniciasse uma nova frase.
Eu que era corajosa e destemida, eis-me assustada e magoada.
Uma análise coerente deste fenômeno da linguagem é a perspectiva de que o pensamento acontece em uma velocidade muito maior do que a fala é capaz de acompanhar, resultando, portanto, em uma manifestação das ideias que desloca as estruturas linguísticas.
É aquela situação em que os falantes iniciam uma conversa sem prever para qual rumo o diálogo vai se direcionar, e algumas vezes não se conclui aquele pensamento inicial. No meio da fala, ou até mesmo do texto escrito, dá-se pelo descuido, faz-se pausas, reelaboram-se as ideias, e, não sendo possível retomar o pensamento inicial, dá continuidade em outra direção.
O anacoluto, fora de contextos específicos, é evitado por aquelas pessoas que primam pelo falar e escrever correto da língua portuguesa.
Coloca-se entre as construções anacolúticas o começar o enunciado por um termo não preposicionado e depois recuperá-lo na sua função própria, como que desprezando o inicial:
O indivíduo que não sabe respeitar o convívio social, contra ele se impõe as regras.
UM ANACOLUTO MUITO COMUM É: “Eu parece-me que tudo vai bem.” Citado por muitos gramáticos, como por exemplo Evanildo Bechara.
Exemplos de anacoluto
Minha amiga, ela não seguiu meus conselhos, arrependeu-se depois.
Aquela avaliação, as questões da avaliação foram muito complicadas.
Você acredita que Maria, ela abandonou o curso?
Acompanhe esta análise:
Eu sentia-me infeliz. Era insuportável a sensação, sentia-me enganada. A cada dia aumentavam as dificuldades financeiras também, tudo ficava difícil naquela casa.
Observação: perceba como o enunciado vai mudando de sujeito, o pronome “eu” que anunciava o discurso, muda para a posição de objeto (me) e em seguida se perde, deixa de ser o sujeito do texto . Na segunda oração o complemento do termo “sensação” fica vazio e complementa-se na oração posterior pela expressão “sentia-me enganada”, quando deveria ter sido concluída com “a sensação de ser enganada”
Bibliografia:
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016
CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 15. Ed., 4° reimpressão – São Paulo: Ática, 2002.
CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.
Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 5 ed. – São Paulo: Contexto, 2000 – Coleção: Repensando a Língua Portuguesa.
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